Livro contra FHC revela fonte que provou compra de votos pela emenda da reeleição
RICARDO MENDONÇA
DE SÃO PAULO
O livro "O príncipe da privataria", um libelo contra o ex-presidente 
Fernando Henrique Cardoso que está sendo lançado pelo jornalista 
Palmério Dória, traz uma revelação histórica sobre a compra de votos no 
Congresso a favor da emenda constitucional da reeleição, esquema 
revelado pela Folha em 1997. 
Tratado pelo jornal como "Senhor X" em diversas reportagens, o homem que
 naquele ano gravou deputados admitindo a venda de votos assumiu sua 
real identidade.  
Trata-se do empresário e ex-deputado Narciso Mendes, 67 anos, dono de um
 jornal e de uma retransmissora do SBT em Rio Branco (AC). Em 16 anos, 
ele nunca havia falado publicamente sobre o assunto. A seu pedido, seu 
nome era preservado pelo jornal. 
O depoimento de Mendes admitindo ter colhido as provas da compra de 
votos é tema dos capítulos 11 e 12 de "O príncipe da privataria" (399 
páginas, Geração Editorial). 
Na época, Mendes já era ex-deputado. Com bom trânsito na bancada do 
Acre, ele afirma que aceitou gravar os colegas e entregar o material ao 
repórter Fernando Rodrigues, autor da série de reportagens da Folha 
sobre a compra de votos, porque era "intransigentemente contra" a emenda
 que viria a favorecer FHC. 
Seu único pedido era a manutenção do anonimato, condição que o jornal 
aceitou por entender que o interesse jornalístico se sobrepunha à 
necessidade de revelação de seu nome. Com a iniciativa do próprio em 
revelar sua identidade, a Folha entende que o acordo está encerrado. 
HISTÓRICO 
Nas gravações do "Senhor X" em 1997, dois deputados do Acre, Ronivon 
Santiago e João Maia (ambos do PFL, hoje DEM) diziam ter votado a favor 
da emenda da reeleição em troca de R$ 200 mil, o equivalente a R$ 530 
mil hoje. 
Outros três deputados eram citados de forma explícita nas gravações. As 
conversas sugeriam que dezenas teriam participado do esquema. 
A denúncia causou abalo no governo, mas o assunto nunca foi investigado.
 A tentativa de criação de uma CPI foi abafada. O então procurador-geral
 da República, Geraldo Brindeiro, não pediu a abertura de inquérito. 
Em 21 de maio de 1997, oito dias após o caso ter sido publicado, 
Santiago e Maia renunciaram. Os ofícios enviados ao presidente da 
Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), eram idênticos. Ambos alegaram "motivos 
de foro íntimo". 
Dez anos depois, em sabatina na Folha, FHC não negou que tenha ocorrido 
compra de votos, mas disse que a operação não foi comandada pelo 
governo. "O Senado votou [a reeleição] em junho [de 1997] e 80% aprovou.
 Que compra de voto? (...) Houve compra de votos? Provavelmente. Foi 
feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito 
menos."
APANHADO 
Apesar do tom escandaloso do subtítulo, "A história secreta de como o 
Brasil perdeu seu patrimônio e FHC ganhou sua reeleição", o livro não 
traz material exclusivo sobre a venda de estatais durante o governo 
tucano (1995-2002). 
As várias denúncias citadas, muitas vezes apresentadas de forma confusa e
 imprecisa, são reproduções de notícias publicadas em jornais e revistas
 da época. Já os argumentos econômicos são colagens de artigos 
publicados nos anos 90 pelo jornalista Aloysio Biondi (1936-2000), 
ex-colunista da Folha. 
A informação mais polêmica do livro não está no material de Dória, mas 
na "Carta do Editor", assinada na introdução por Luiz Fernando Emediato,
 dono da Geração. 
Emediato diz que em 1991, quando denúncias contra o então presidente 
Fernando Collor começaram a surgir, ouviu uma confissão de uso de caixa 
dois da boca do próprio FHC numa viagem aos EUA. 
Ele diz ter ouvido de FHC o seguinte: "A diferença entre nós e eles [a 
turma de Collor] é que nós gastamos o dinheiro em campanhas, enquanto 
eles enfiam uma boa parte em seus próprios bolsos". 
Por escrito, o assessor do Instituto FHC Xico Graziano afirmou que o 
ex-presidente não se lembra de ter estado com Emediato nos EUA. Graziano
 classificou a frase atribuída a ele como "absurda" e disse que ela 
"jamais teria sido por ele pronunciada".

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