Segundo o colunista do Globo, "o
presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, surge como uma possível
candidatura alternativa no rastro desse movimento contra a política
tradicional"
O jornalista Merval Pereira, do Globo, aponta o presidente
do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, como um possível nome
para a disputa presidencial de 2014.Leia abaixo:
O GLOBO - 02/03
A crítica do presidente do
Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, aos "políticos
profissionais", defendendo a limitação de mandatos parlamentares na
mesma linha proposta pelo partido que a ex-senadora Marina Silva
pretende organizar, provocou não apenas as especulações naturais de que
estaria falando em causa própria, apresentando-se como uma alternativa,
como também comentários mais ácidos de políticos que, por enquanto,
preferem ficar no anonimato.
Há os exemplos concretos de
grandes homens públicos que tiveram vários mandatos seguidos no
Congresso, como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, além
de uns poucos atuais, o que leva a crer que a questão seja de qualidade
individual, e não de tempo de mandato. Há também o fato de que, entre
os condenados do mensalão, a maioria é de políticos de poucos mandatos,
quando não de um apenas.
Há também os argumentos
jurídicos, que dizem ser flagrantemente inconstitucional uma decisão
nesse sentido, pois, nas condições de elegibilidade, tal proibição não
figura. Seria preciso modificar a Constituição para impor essa
restrição.
Há também quem lembre que o
ministro Joaquim Barbosa, assim como todos os membros do STF, tem
mandato vitalício, o que por si só denotaria uma incoerência de sua
parte criticar a longevidade dos políticos que, em vez de serem
nomeados, são eleitos pelo voto direto dos cidadãos.
A campanha da ex-senadora
Marina Silva, que pretende que seu novo partido seja "diferente" dos
existentes, também não encontra muito eco entre os políticos que
poderiam formar em sua bancada, ao contrário do que aconteceu, por
exemplo, com o PSD do ex-prefeito paulista Gilberto Kassab, o protótipo
de "mais do mesmo" no campo partidário.
O PSD foi uma válvula de
escape para políticos incomodados em seus partidos originais, que
gostariam de aderir ao governo Dilma. Conseguiu formar a terceira maior
bancada da Câmara e transformar-se não em mais um dos muitos partidos
aliados, mas em um dos principais sustentáculos da base governista.
Embora tanto Kassab quanto Marina tenham definido seus respectivos
partidos como "nem de centro, nem de direita, nem de esquerda", ou ainda
"nem governo nem oposição", os dois partem de pontos diferentes.
Kassab formou seu partido
com a adesão de políticos, Marina tenta erguer o seu através de petição
pública. Por essas coincidências da política, os dois podem estar também
em polos opostos na eleição presidencial de 2014, e nenhum dos dois com
a presidente Dilma, pelo menos no primeiro turno.
Marina deve ser a candidata
a presidente mais uma vez, na REDE ou em algum partido tradicional que a
abrigue. Já Kassab pode levar seu PSD a apoiar o governador Eduardo
Campos se ele sair mesmo candidato pelo PSB. O início da caminhada do
PSD teve todo o apoio do PSB de Campos, que chegou em determinado
momento a ser cogitado como o partido que abrigaria os dissidentes caso o
PSD não conseguisse sair do papel.
Da mesma maneira que hoje
Marina tem como plano B se unir a algum partido que não esteja na órbita
governista ou que queira sair dela para tentar um voo solo. O
presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, surge como uma possível
candidatura alternativa no rastro desse movimento contra a política
tradicional, mas o exemplo mais próximo que temos dessa experiência é o
hoje senador Fernando Collor, que se apresentou como candidato
antipolítico na eleição de 1989, apesar de pertencer a uma família
tradicional da política alagoana.
Teve êxito na sua farsa
eleitoral, mas acabou sendo impedido por um movimento popular que tomou
conta das ruas do país da mesma maneira que, meses antes, a maioria do
eleitorado pensou ter visto nele aquele que redimiria a política
nacional.
Hoje, Collor, eleito
senador, faz a política mais tradicional que se possa pensar, no sentido
negativo com que essa política é vista pela opinião pública, aliado a
antigos adversários como o PT, Sarney, Lula e Renan Calheiros.
ESQUERDA CENSURADA
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